O presidente de Israel, Shimon Peres, pediu ontem ao presidente Lula que transmita ao líder da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmou Abbas, amanhã, o desejo israelense de continuar negociando um acordo de paz. O pedido foi feito nesta segunda-feira, durante uma reunião com Lula, o que, na prática, garante maior participação do Brasil no processo de negociação.
Em discurso ao Parlamento, em Jerusalém, Lula defendeu a criação de um Estado palestino e criticou a expansão de assentamentos israelenses na Cisjordânia e em Jerusalém oriental.
“Defendemos a existência de um Estado de Israel soberano, seguro e pacífico. Ele deverá conviver com um Estado palestino igualmente soberano, pacífico, seguro e viável, sobretudo pelo traçado de seu território”, afirmou Lula.
O presidente destacou a importância do diálogo para solucionar os conflitos no Oriente Médio.
“Essa postura se faz mais necessária agora, quando assistimos a uma paralisação das negociações e iniciativas unilaterais que as dificultam, como o anúncio da construção de residências em Jerusalém às vésperas do reinício de uma rodada de negociações”, disse o presidente em alusão à decisão israelense de construir 1.600 casas em Jerusalém oriental – causa de novos choques ocorridos ontem, na Cisjordânia, entre palestinos e soldados de Israel.
Na opinião de Lula, “o impasse agrava a deterioração das condições de vida nos territórios palestinos ocupados. Mas também alimenta fundamentalismos de todos os lados e coloca, no horizonte, conflitos mais sangrentos ainda.”
Tanto no discurso ao Parlamento quanto antes, em encontro com o presidente Shimon Peres, Lula declarou o interesse do governo brasileiro em trabalhar como mediador dos conflitos entre israelenses e palestinos.
Shimon Peres chamou Lula de “César”, aludindo ao imperador romano, e acolheu como “bem-vinda” a contribuição brasileira para a paz. No Parlamento, no entanto, deputados israelenses reclamaram da resistência brasileira em apoiar sanções contra o Irã, acusado por vários países de tentar fabricar bombas atômicas.
O presidente do Parlamento, Reuven Rivlin, declarou que ser publicamente contra as sanções pode ser interpretado como um sinal de fraqueza.
O primeiro-ministro, Beniamin Netanyahu, pediu que o Brasil apoie a frente internacional contra o Irã.
“Eles adoram a morte, e vocês, brasileiros, adoram a vida”.
A líder da oposição, Tzipi Livni, afirmou que o Brasil, ao se opor às sanções, contribui para legitimar o regime iraniano.
“O Brasil não pode dar legitimidade indireta a esse regime”.
Lula evitou referência direta ao Irã, mas pediu o fim das armas nucleares.
”Em meu país há uma proibição constitucional de produção e utilização de armamento nuclear. Gostaríamos que o exemplo de nosso continente pudesse ser seguido em outras partes do mundo.”
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, minimizou os discursos dos líderes israelenses e reafirmou que, por enquanto, o governo vai continuar pregando o diálogo, em vez das sanções. Amorim disse que, em encontro reservado, Lula explicou ao primeiro-ministro Netanyahu que é contrário a sanções porque concede o “benefício da dúvida” ao Irã.
“Se o benefício da dúvida tivesse sido dado de maneira correta ao Iraque, teriam sido evitadas 200 mil mortes”, observou o chanceler
Fonte: Brasília Confidencial
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