quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Fidel Castro classifica de atroz acordo Colômbia-EUA

O líder da Revolução cubana e ex-presidente da ilha, Fidel Castro, classificou, nesta quarta-feira (04), de atroz e infame o recente acordo que permite aos militares americanos usar bases na Colômbia, convênio considerado por Fidel uma ameaça à América Latina. Segundo o cubano, nunca a região foi tratada com tanto desprezo, como atualmente, na gestão norte-americana de Barack Obama.
Em uma nova publicação na coluna "Reflexões", o líder cubano lamentou a assinatura do acordo porque os "Estados Unidos impõem sete bases militares no coração da América, ameaçando não só à Venezuela, mas todos os povos do Centro e do Sul do hemisfério".

Ele destacou que "não se trata de um ato do governo de [George W.] Bush, é Barack Obama que assina esse acordo, violando normas legais, constitucionais e éticas", disse, completando: "Nunca os países latino-americanos foram tratados com tanto desprezo", afirmou.

"Como pretexto, ele utilizou a luta contra o comércio de drogas que, como o terrível flagelo do para-militarismo, surgiu do gigantesco mercado americano de cocaína e de outras drogas (...) As bases militares ianques na América Latina surgiram antes que as drogas, com fins intervencionistas", afirmou o ex-líder de 83 anos, em um texto em que critica ainda as penas aplicadas ao anti-terroristas cubanos, pesos injustamente nos EUA. Veja abaixo a íntegra do artigo:


A melhor homenagem à mãe de um heroi
Por Fidel castro

Ontem, faleceu Carmen Nordelo Tejera, a abnegada mãe do Herói da República de Cuba, Gerardo Hernández Nordelo, injustamente sancionado a duas penas de prisão perpétua e mais 15 anos de cárcere. O insólito é que, há apenas 12 dias, a justiça ianque pôs em liberdade Santiago Álvarez Fernández-Magriñá, de quem foram apreendidas armas de guerra, explosivos e outros meios destinados aos planos terroristas contra o nosso povo.

Tratava-se de armas apreendidas desse agente da CIA que, a serviço do governo dos Estados Unidos, dedicou boa parte da sua vida ao terrorismo contra Cuba.

Valeria a pena que os assessores de Barack Obama, que tanto difundem os seus discursos pela televisão, solicitassem e lhe mostrassem uma cópia do vídeo da Mesa-Redonda do canal Cubavisión, onde se tratou da ridícula sanção de quatro anos numa penitenciária de mínima segurança aplicada a Santiago Álvarez pelas armas apreendidas.

E o pior foi que lhe diminuíram a sentença, após entregar à Procuradoria norte-americana outro arsenal de armas maior que o anterior. O sujeito, além disso, enviou um grupo que se infiltrou em Cuba, ao qual, entre outras ações, encomendou uma explosão no Cabaré Tropicana, sempre repleto de espectadores. Existe prova documental irrebatível dessa instrução.

Com outro terrorista de origem cubana, Roberto Ferro, aliado à máfia terrorista de Posada Carriles e Santiago Álvarez, em julho de 1991, foram apreendidas 300 armas de fogo, detonadores e explosivos plásticos. Foi sancionado a dois anos. Em abril de 2006, foram apreendidas, em compartimentos ocultos da sua casa, 1.571 armas e granadas de mão. Foi condenado a cinco anos de prisão.

Nunca será bastante o que se diga sobre o cinismo da política dos Estados Unidos, que incluem Cuba na lista de países terroristas, aplicam exclusivamente à nossa nação a assassina Lei de Ajuste Cubano, e a bloqueia economicamente, proibindo mesmo a venda de equipamentos médicos e medicamentos.

Ontem, a Mesa-Redonda da televisão, ao passo que enumerava os crimes de Santiago Álvarez, mostrava programas de televisão de Miami onde um conhecido agente dos Estados Unidos, Antonio Veciana, narrava os planos com explosivos e balas para o assassinato de líderes cubanos, entre os quais, o de Camilo e o de Che - que estavam comigo num ato do qual participavam centenas de milhares de pessoas em frente do antigo Palácio Presidencial -, ou o meu assassinato, numa entrevista coletiva no Chile, quando visitei o presidente Salvador Allende.

Afinal de contas, como confessa o mercenário, no momento da ação, os assassinos a serviço da CIA se acovardaram nas duas ocasiões. Tratava-se apenas de dois dos tantos planos de magnicídio do governo desse país.

Tais malfeitorias podem ser lembradas com sangue frio, a não ser que, como neste caso, a narração coincida com a notícia da morte, após uma longa doença, de uma mãe honesta e valente como Carmen Nordelo Tejera, cujo filho foi injustamente condenado a duas penas de prisão perpétua mais 15 anos de cárcere isolado e cruel e numa penitenciária de alta segurança. Que dor mais profunda podia existir para ela que a injusta prisão perpétua do seu filho por delitos que nunca cometeu?

Não é possível colocar uma flor no seu féretro sem denunciar, mais uma vez, o repugnante cinismo do império.

Acrescenta-se a isto outra notícia atroz escutada nessa mesma tarde: a assinatura oficial do acordo, em virtude do qual, os Estados Unidos impõem sete bases militares no coração da Nossa América, com as que ameaça não apenas a Venezuela, mas também todos os povos do Centro e do Sul do nosso hemisfério.

Não se trata de um ato do governo de Bush; é Barack Obama quem assinou esse acordo, violando normas legais, constitucionais e éticas, quando ainda os frutos da funesta base militar ianque de Palmerola, em Honduras, são exibidos perante o mundo. O golpe militar nesse país centro-americano foi levado a cabo sob a atual administração.

Nunca se tratou com maior desprezo os povos latino-americanos deste hemisfério.

Um país como Cuba sabe muito bem que, depois que os Estados Unidos impõem uma das suas bases militares, só vão embora quando quiserem, ou permanecem pela força, como fizeram em Guantânamo há mais de cem anos. Ali erigiram o odioso centro de torturas, cujas masmorras, com numerosos presos, o nosso flamejante Prêmio Nobel ainda não conseguiu eliminar.

À devolução de Manta no Equador seguiu de imediato a oficialização das sete bases militares impostas ao povo da Colômbia. O pretexto utilizado: a luta contra o comércio de drogas que, como o terrível flagelo do paramilitarismo, surgiu do gigantesco mercado norte-americano de cocaína e outras drogas. As bases militares ianques na América Latina surgiram muito antes que as drogas, com fins intervencionistas.

Cuba demonstrou durante meio século que é possível lutar e resistir. O presidente dos Estados Unidos se engana e os seus assessores também, se continuam nesse caminho sórdido e perjorativo contra os povos da América Latina. Os nossos sentimentos, sem sombra de dúvida, inclinam-se para o povo bolivariano da Venezuela, para o seu presidente Hugo Chávez e para o seu ministro das Relações Exteriores, denunciando o pacto militar infame imposto ao povo colombiano, cujas cláusulas expansionistas os seus autores nem sequer tiveram o valor de publicar.

Cuba continuará cooperando com os programas da saúde, educação e desenvolvimento social dos países irmãos que, apesar de obstáculos, avanços e retrocessos, serão cada vez mais irredutivelmente livres.

Como afirmou Lincoln: "… não se pode enganar todo o povo o tempo todo."

Não apenas colocaremos flores no túmulo de Carmen Nordelo. Continuaremos incansavelmente a luta pela liberdade de Gerardo, Antonio, Fernando, Ramón e René, desmascarando a infinita hipocrisia e o cinismo do império, defendendo a verdade!

Apenas assim, honraremos a memória da legião de mães e mulheres como ela, que, em Cuba, sacrificaram o melhor e mais prezado da sua vida pela Revolução e pelo Socialismo.

Fidel Castro

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